PARA O CAMPEÃO MOISÉS SANTORO O CÉU É O LIMITE
Por Lucia Souza
Nada é capaz de detê-lo. Nem mesmo a pandemia ou a retinose pigmentar bilateral irreversível que tirou sua visão noturna, o deixou com vinte por cento da central e o impedia de ver golpes dos adversários no muay thay e taekwondo, aos 18 anos. Na época, Moisés Santoro treinava para ser um lutador de vale tudo, sonho que precisou desistir. Entrou em depressão, engordou 40 quilos em dois anos e ficou dos 18 aos 33 anos praticando natação e musculação apenas como lazer.
A vida deste niteroiense de 39 anos que há 11 anos trabalha como funcionário público na Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro mudou quando, aos 33 anos, um amigo o incentivou a praticar jiu jitsu. “Foi amor a primeira vista. Nesta época estava com 40 quilos acima do meu peso e com a prática do esporte emagreci 45 quilos em dois anos. Meu amigo desistiu e eu continuei. O jiu jitsu me tirou da depressão que entrei aos 18 anos quando descobri a doença”, afirma.
Atualmente o desportista precisa usar lentes de contato e uma bengala para sair de casa. E concilia o trabalho com as corridas e treinos em casa, focado nas lutas casadas – quando um atleta desafia o outro – que acontecerão no final do ano pela Copa Company, Mundial de Luta Livre e Grand Slam do Rio nas duas categorias que ele pertence, parajiujitsu e jiu jitsu convencional.
O pai de Yasmin, de 16 anos, e Valentina, de 6, é bicampeão mundial de parajiujitsu e campeão no tradicional no torneio que nos dois últimos anos vinham acontecendo em Abu Dhabi.
Sem patrocínio, ele conseguiu participar do torneio porque venceu as seletivas de Espírito Santo e São Paulo. O prêmio era um free pass – passagem, hospedagem e traslado – para o campeonato nas duas categorias em Abu Dhabi. Moisés, até então faixa azul, voltou de lá campeão no parajiujitsu e quinto lugar no convencional.
Para conseguir participar do torneio no ano seguinte Moisés teve que suar literalmente. Como campeão das seletivas daquele ano, ganhou um prêmio de mil dólares, quantia que usou para comprar a passagem aérea. Já pagar o traslado e alimentação ele contou com uma vaquinha feita pelos companheiros da Academia Breda. ”Como não tinha o dinheiro para a hospedagem dormia no chão do quarto de algum outro competidor”, recorda. Moisés voltou de lá com os títulos de bicampeão mundial de parajiujitsu e campeão no convencional, tornando-se assim faixa roxa.
Hoje, o atleta é faixa marrom e está na expectativa de participar do Gran Slam da Rússia, no final de outubro, já que não haverá torneio em Abu Dhabi. Por enquanto coleciona 72 medalhas no esporte que pratica ainda como um hobby porque não consegue sobreviver só dele, continuou, “Não tenho patrocínio, mas estou correndo atrás”, avisa. O esporte e competições sempre fizeram parte da vida do atleta que começou na natação ainda criança, o qual praticou dos 7 aos 14 anos. Dos 10 aos 15 anos veio o taekwondo e dos 15 aos 18 o muay thai. “Dos 18 aos 33 anos praticava apenas natação e musculação apenas para manter o condicionamento físico. Naquela época nem sonhava que poderia voltar a competir e principalmente vir a ser campeão, o jiujitsu mudou a minha vida”, concluiu.